terça-feira, 23 de agosto de 2011

Acordo com Bolívia pode permitir retorno de carros roubados, avalia deputado

Audiência discutiu decisão de governo boliviano de legalizar veículos importados irregulares no país. A PF estima que até 20 mil carros brasileiros roubados estejam circulando na Bolívia.

Brasil e Bolívia poderão fazer um acordo para repatriar os veículos brasileiros roubados que transitam irregularmente em território boliviano. A informação é do deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP), que participou nesta terça-feira (23) de audiência pública sobre a decisão recente da Bolívia de legalizar carros, motos e caminhões importados irregulares no País.
Segundo o deputado, os governos boliviano e brasileiro estão dispostos a conversar para fechar um compromisso de envio dos veículos brasileiros de volta ao Brasil. O objetivo, de acordo com ele, é evitar que a decisão da Bolívia estimule o aumento dos casos de roubo e furto no País. No debate, o diretor da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseng), Neival Rodrigues Freitas, que integrou uma comitiva do Itamaraty à Bolívia em julho deste ano, também afirmou que os dois governos estão negociando ações para evitar o contrabando de veículos brasileiros. Estão sendo estudadas medidas como integração de banco de dados e cooperação entre polícias.
O procurador da República Raphael Perissé defendeu a adoção de medidas diplomáticas para solucionar o impasse, mas, segundo ele, a negociação deve prever a possibilidade de sanções comerciais e econômicas contra a Bolívia em caso de recusa ao envio dos veículos brasileiros.
“A Bolívia depende dos recursos brasileiros e a adoção desse tipo de sanção pode evitar que se repita esse quadro que traz tantos prejuízos à sociedade brasileira”, disse.
Regularização
Após publicar uma lei autorizando a legalização de veículos irregulares no país, o governo boliviano recebeu cerca de 128 mil pedidos de regularização. A Polícia Federal estima que, desse total, 15 a 20 mil são veículos roubados no Brasil. Já segundo o embaixador da Bolívia no Brasil, são 3,5 mil carros nesse grupo.
A população boliviana teve 15 dias, em junho deste ano, para pedir a regularização dos veículos. Para evitar a legalização de carros roubados, outros países, inclusive o Brasil, enviaram ao governo da Bolívia uma lista com dados de veículos roubados e ainda não recuperados.
Reinaldo Ferrigno
Raphael Perisse R. Barbosa  Procurador da Republica - legalização, pela Bolivia, de carros roubados no Brasil
Procurador Perissé afirma que veículos são trocados por drogas na Bolívia.
Segundo o delegado da Polícia Federal Caio Bortone, o cruzamento dessa lista com os pedidos de regularização chegou à identificação de 4 mil carros brasileiros roubados circulando na Bolívia, mas a estimativa é de que o número chegue até a 20 mil. “Dos 128 mil pedidos de regularização, só conseguimos analisar 30 mil, porque o banco de dados da Bolívia é inconsistente”, justificou.
Tráfico de drogas - De acordo com Raphael Perissé, os carros roubados no Brasil que seguem para a Bolívia são normalmente trocados por pasta-base de cocaína. A droga, segundo o procurador, acaba entrando no Brasil – uma parte fica em território nacional e outra alimenta o tráfico internacional. “Ou seja, o roubo de carros prejudica ainda mais o País porque estimula a manutenção do Brasil no cenário do tráfico internacional de drogas”, disse.
O embaixador da Bolívia no Brasil, Jose Alberto Gonzales Samaniego, contudo, disse que a troca de veículos roubados por droga não é comum na Bolívia. “Há sim casos como esses, mas isso não é a regra. A Bolívia está sendo estigmatizada como o país da droga e do delito, mas isso não é verdade”, protestou.
Samaniego ressaltou que 80% dos pedidos de regularização de veículos feitos este ano referem-se a carros japoneses antigos de modelo básico, que são vendidos para a população de baixo poder aquisitivo. Em média, segundo ele, os carros que serão regularizados custam entre US$ 6 e 7 mil. “Não quero dizer que não exista roubo de carro no Brasil para envio à Bolívia, mas é injusto afirmar que a Bolívia incentiva o aumento do crime no Brasil”, afirmou.
Reportagem – Carolina Pompeu 
Edição – Daniella Cronemberger

Agência Câmara


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