domingo, 26 de junho de 2011

Especialistas estrangeiros comentam violência do trânsito catarinense

O carro em chamas, o motorista sem carteira, vidas ceifadas. O acidente da madrugada do último domingo que envolveu o jogador Eduardo Francisco da Silva Neto, o Dudu, do Figueirense, e que causou a morte de três pessoas, reforça o alerta sobre a violência no trânsito de Santa Catarina, o mais perigoso do país. 

Só neste ano, mais de 414 pessoas morreram nas rodovias federais e estaduais. A experiência de outras nações mostra que a mortandade pode ser reduzida consideravelmente com trabalho de educação, melhoria das vias e fiscalização rígida. 

Mas por que Santa Catarina e o Brasil ainda não avançaram na segurança de trânsito? Com 13 anos de existência, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é tido como um dos mais avançados do mundo. Mas ainda não é tão respeitado como deveria. Para o presidente do Movimento Nacional de Educação no Trânsito (Monatran) – com sede em Florianópolis –, Roberto Alvarez Bentes de Sá, dois motivos são a falta de fiscalização e a morosidade da Justiça. 

– Dudu, com 33 anos, nunca tirou a carteira de motorista. Como ninguém parou ele antes? Temos um problema sério de fiscalização. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) tenta fazer um bom trabalho, mas enquanto o número de carros aumenta, o efetivo é o mesmo desde 1980 – critica Sá, sobre o caso do atleta do Figueirense que foi autuado em flagrante por homicídio culposo – sem intenção de matar – pagou fiança e foi libertado. 

O presidente do Monatran, também lembra o caso do ex-jogador Edmundo, que, em 1995, bateu o carro, no Rio de Janeiro, provocando a morte de três pessoas. Para ele, outro acidente que gerou a sensação de impunidade, dando mau exemplo. Edmundo foi preso em 15 de junho deste ano, mas um dia depois foi solto, por meio de um habeas corpus, porque ainda cabem recursos.


Educação é feita por meio de punição 
No seminário da Volvo OHL sobre a década mundial de ações de segurança de trânsito, realizado este mês em Brasília, o diretor geral de Tráfego da Espanha, Pere Navarro, afirmou que, em 2003, o país europeu decidiu reduzir em 50% as mortes no trânsito. Lá, a punição de quem desrespeita as regras é tida como um meio de educar. Uma das primeiras medidas foi contratar mais 1,5 mil policiais rodoviários, além de promover campanhas publicitárias de impacto e ampliar o número de radares fixos. 

O resultado espanhol foi melhor do que o esperado. O país de 40 milhões de habitantes conseguiu reduzir em 57% a mortalidade, que era de 3.993 em 2003 para 1.717 em 2010. 

Em SC, o número de mortes foi a metade, 850. A diferença é que a população é seis vezes menor. No Brasil, o total é de 38 mil mortes.

 – Nosso país tornou o tema uma prioridade de governo e mobilizamos a sociedade. Só que é preciso fazer a lei ser cumprida. Se alguém está com a carteira suspensa e continua dirigindo, é preso em nosso país (o mesmo não acontece no Brasil) – explica Navarro.

 O consultor de trânsito do Banco Mundial (Bird), o australiano Eric Howard, também participou do seminário em Brasília, e comentou a mortalidade no trânsito catarinense, com base na estatística de 2007 do Ministério da Saúde. 

O número de mortos foi de 33,1 por grupo de 100 mil habitantes, superior ao índice brasileiro (18,9). Howard afirmou que essa realidade pode ser mudada com um programa de segurança, que integre todas as instâncias envolvidas no trânsito. 

Em 1970, o Estado de Victoria, na Austrália, tinha uma índice alto, 30 mortes por 100 mil habitantes, muito parecido com a de Santa Catarina. Após uma forte ação do governo para reduzir a mortalidade, o índice diminuiu para 5,2 por 100 mil habitantes. 

– O incrível é que o sistema viário daqui é uma verdadeira tragédia e poucas ações são feitas – lamenta o especialista australiano. 
DiárioCatarinense

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